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O mundo analógico tem ficado para trás. Afinal, o digital está tornando-se o maior responsável pela mudança de comportamento dos últimos anos. Dessa forma, impacta a saúde mental significativamente.
Uma pesquisa do Instituto Gartner estima que a quantidade de informações a que temos acesso hoje supere os 40 trilhões de gigabytes de dados no mundo. Isso significa 2,2 milhões de terabytes de novos dados gerados diariamente. Para se ter uma noção, esse volume equivale a 4 quintilhões de páginas A4 de conteúdo criados e disponibilizados todos os dias.
Mas o que é essa tal de hiperconectividade?
O acesso às mais diversas ferramentas online é chamado de hiperconectividade. Essa realidade nos trouxe muitas possibilidades e oportunidades, mas também desvantagens e malefícios. E-mail, mensageiros instantâneos, telefone, entre outras ferramentas podem ser muito úteis para o dia a dia. No entanto, também podem provocar consequências nocivas, a depender do uso que as pessoas fazem delas.
Hoje, para a maioria das pessoas, é impensável se ver, por exemplo, sem o atendimento online das empresas, o trabalho remoto, a inteligência artificial, as informações a um clique e até o acesso a serviços digitais de saúde e bem-estar. Há até quem faça tudo ao mesmo tempo: trabalhe, ouça música, responda a mensagens, role o feed das redes sociais, leia, assista, curta, comente, compartilhe… ufa!
Os adolescentes e os jovens adultos são os que mais põem em prática esse conceito. Segundo levantamento da NordVPN, os brasileiros passam mais da metade de suas vidas na internet, ou cerca de 41 anos.
Isso corresponde à 91 horas online por semana. Segundo o mesmo estudo, as redes sociais e as plataformas de entretenimento (como streamings de vídeo, filmes e séries) ocupam a maioria do tempo no digital.
E os impactos na saúde mental?
O excesso de informações, de múltiplas conexões e de tempo gasto nos dispositivos e ambientes digitais tem causado aumento dos transtornos mentais. É parte do que revela a pesquisa Saúde Mental dos Brasileiros 2022, conduzida pelo Datafolha, com 2.098 brasileiros, em agosto do mesmo ano.
Focado em redes sociais, o levantamento mostra que o abalo na saúde mental vem sendo desencadeado por alguns fatores, entre eles:
- Medo de julgamento e ataques por conta do conteúdo postado em seus perfis;
- Sentimento de cobrança para se manter ativo online;
- Insatisfação com a própria vida pela comparação com as de outras pessoas.
Esses sentimentos, somados à exposição diária e excessiva aos ambientes online, podem levar a problemas psíquicos graves, como ansiedade e depressão.
O aparentemente belo, feliz e bem-sucedido pode gerar em muitas pessoas uma falsa percepção da realidade. Isso pode causar frustração pela pessoa não conseguir alcançar determinado padrão, seja físico, com roupas, de viagem ou até mesmo vivenciar certas experiências. Uma consequência provável e mais séria disso é o transtorno de imagem, gerado pela comparação a determinados padrões corporais.
Ainda, o uso excessivo do celular, assistindo, conversando, jogando ou praticando outras atividades online pode levar ao aumento gradativo da ansiedade, a ponto de se tornar – de fato – uma doença, com necessidade de apoio terapêutico.
Um sinal evidente de que esse excesso está se tornando um vício é quando a pessoa começa a dormir com o celular na cama, e a primeira atividade ao acordar é checá-lo. Algumas pessoas chegam a acordar no meio da noite, ansiosas pela presença do aparelho. Uma vez conectadas, essas pessoas podem desenvolver, entre outros malefícios, insônia, o que prejudica a concentração e a produtividade no trabalho e nos estudos.
Todos esses fatores podem levar a esgotamento mental e sofrimento emocional. Fazem parte do quadro: tristeza, desânimo, alterações do sono e de humor, diminuição do interesse por atividades, entre outros efeitos e sentimentos negativos. O que pode resultar, por fim, em depressão e até, em casos mais sérios, em suicídio.
Na pandemia, esse cenário piorou quanto a saúde mental?
Com a covid-19, as consequências na saúde mental se agravaram. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão em todo o mundo.
O isolamento social e a adoção massiva do trabalho pela internet ajudaram a acelerar e aumentar esse processo. Dados do Datafolha revelam um aumento de 34 a 44% de brasileiros com problemas psicológicos desde o início da pandemia.
Como se adaptar e evitar as consequências desses excessos?
Apesar de os esforços de organizações de saúde e da sociedade civil para chamar atenção para a causa, ainda há muito estigma sobre os transtornos mentais. Esse tabu impede que muitas pessoas busquem por tratamentos e também dificulta a convivência em sociedade, podendo aumentar o transtorno experimentado pela pessoa.
No entanto, existem cuidados que podem ser tomados no que se refere ao mundo digital e seus prejuízos. Confira:
- Medir e regular o tempo que se passa online, determinando limite para cada atividade ou plataforma;
- Buscar, programar e realizar atividades fora da internet, como passeios e demais momentos de lazer e descontração;
- Evitar o isolamento e reforçar os laços com familiares e amigos, especialmente em encontros presenciais;
- Praticar atividades físicas regulares, pois proporcionam sensação de bem-estar e ajudam a combater a ansiedade e demais problemas psicológicos;
- Ter hábitos saudáveis e de autocuidado, incluindo principalmente alimentação balanceada e horas preciosas de sono e descanso;
- Exercitar e reforçar o intelecto e o espírito com atividades sem o celular, como a leitura de livros e programas artísticos e culturais;
- Desconectar, pausar, exercitar a respiração, alongar o corpo, meditar.
Caso identifique situações, sintomas e sinais como os expostos acima, é importante buscar apoio de psicólogos e psiquiatras para diagnóstico, aconselhamento e tratamento adequados.
Revisão técnica por: Dr. Luiz Gustavo Zoldan, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein
Atlas Mental é um projeto que esclarece dúvidas, explica conceitos e curiosidades relacionadas à saúde mental, abordando suas consequências físicas, psíquicas e comportamentais. Você pode acompanhar novas postagens e conteúdos nas redes sociais do Einstein ou acessar: www.eisntein.br/atlasmental – as publicações acontecem ao longo de todo o mês de janeiro de 2023.